sábado, 12 de setembro de 2009

Monumentos portugueses (6) - A igreja de Santa Engrácia, um dos Panteões Nacionais de Portugal




Principiemos por uma curiosidade: a igreja de Santa Engrácia não se situa na freguesia do mesmo nome, mas na de São Vicente de Fora. Esta mudança ocorreu no século XIX e não implicou qualquer deslocação material do templo - foi o resultado de uma alteração administrativa. Santa Engrácia e São Vicente de Fora - atente-se ao nome - eram paróquias (mais tarde designadas por freguesias) que ficavam fora da cerca fernandina e, portanto, fora da cidade de Lisboa, aquando da sua criação no século XVI. E assim se mantiveram até aos inícios do século XIX, quando o aumento populacional e a expansão da área urbana para oriente fizeram com que a cidade englobasse, por fim, as paróquias.

Para além da peculiaridade referida, Santa Engrácia, a igreja, tem uma história invulgar. O primitivo lugar de culto foi mandado erguer naquele lugar pela infanta D. Maria, filha do rei D. Manuel I, em 1568. Um temporal em 1681 danificou-a bastante, de tal modo que no ano seguinte foi iniciada a construção de uma nova igreja no mesmo local. Foi o primeiro edifício de traça barroca em Portugal.

O ditado "obras de Santa Engrácia" é aplicado em Portugal a uma obra que se arrasta no tempo, sem conclusão á vista. E, de facto, a construção da nova igreja de Santa Engrácia demoraria 284 anos a terminar: só em 1966 ficou concluída.

Actualmente, a igreja é um dos Panteões Nacionais de Portugal (o outro é o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde estão sepultados os dois primeiros reis de Portugal). Em Santa Engrácia encontram-se os túmulos dos escritores Almeida Garrett (1799-1854), João de Deus (1830-1896), Guerra Junqueiro (1850-1923) e Aquilino Ribeiro (1885-1963), do general Humberto Delgado (1906-1965), opositor ao Estado Novo, assassinado pela polícia política da ditadura, da fadista Amália Rodrigues (1920-1999) e dos presidentes da República Manuel de Arriaga (1840-1917), Teófilo Braga (1843-1924), Óscar Fragoso Carmona (1869-1951) e Sidónio Pais (1872-1918). Santa Engrácia abriga os memoriais fúnebres (cenotáfios) de personagens da História de Portugal entre os séculos XIV e XVI, como Nuno Álvares Pereira, Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque e Luís Vaz de Camões.

Imagem: Igreja de Santa Engrácia. Foto de JorgeF.

2 comentários:

C. disse...

Por que é que o General Carmona está sepultado no Panteão? (Não é uma pergunta retórica, gostava mesmo de saber.)

Jorge disse...

Cara Clavel Rojo,

Apesar da minha boa vontade, de momento não posso responder com objectividade à sua questão. Ainda não encontrei nada que declarasse expressamente a razão da trasladação dos restos mortais do Marechal Carmona para o Panteão Nacional. Não será errar muito ligar o facto, ocorrido durante o Estado Novo, ao importante papel desempenhado por Óscar Fragoso Carmona na ditadura (Presidente da República durante três mandatos, o último dos quais incompleto, devido ao seu falecimento). Carmona era Maçon, mas seria especulativo ligar este facto à decisão então tomada de lhe franquear o Panteão...